terça-feira, 24 de setembro de 2013

Estranha Obsessão



O silêncio era a marca registrada de Otávio. Nunca falava com ninguém. Mesmo assim aprontava. Gostava de se passar por vítima, mas na verdade adorava executar crimes.

O seu crime predileto era assaltar cuecas. Fazia de tudo para adquiri-las para si. Certa noite, Otávio pulou o muro de seu vizinho e de cara furtou três cuecas pretas que se encontravam expostas no varal. Justamente as cuecas que mais atraíam mulheres! Otávio não gostava de mulheres. Sentia asco.

Em outra noite, a sua cara de pau foi maior: ao roubar todas as cuecas sujas do seu outro vizinho, Otávio trancou-se no seu quarto e passou a cheirá-las incansavelmente. Sujas! As cuecas estavam sujas! Otávio teve a coragem de roubá-las e de passar horas com as narinas sugando aquele cheiro de sujo, testosterona e suor.  Como ele adorava o cheiro de suor! Otávio dava tudo por uma cueca bem suja e suada.

Outra noite não teve sorte. Ao tentar invadir o quintal do seu vizinho da frente, eis que nosso furtador de peças íntimas masculinas se depara com o próprio vizinho. Não pode ser!, pensou Otávio. Pela primeira vez era flagrado assaltando aquilo que mais lhe transmitia prazer: cuecas. E pretas. E sujas. E testosteronizadas. E suadas. Percebeu que o seu mundo, pobre mundo, agora pertencia ao vizinho da frente que o flagrou com a cueca na botija.

- O que você deseja, Otávio? Falava o homem com voz firme, forte e grave. Posso ajudá-lo com alguma coisa?

O homem se aproximava. Otávio assustava-se. Seu vizinho era alto, másculo e dava medo.

- Apenas pretendia roubar suas cuecas. (Otávio foi categórico. Assumiu o delito que iria cometer).

- Para que diabos você deseja as minhas cuecas e se você pode levar-me consigo?

Como assim? Aquele homem estava interessado num cleptomaníaco? Logo Otávio que adorava roubar cuecas?

Sim. Otávio despertara no homem um prazer sexual indescritível. Respondeu ao alto e forte homem:

- Posso levar-te mesmo? Olha que eu sou exigente. Lavo, passo e cozinho. Não abro mão de uma boa cueca suja, hein?!

- Serei todo seu, Otávio! Não terás uma boa cueca e, sim, uma bela de uma pica invadindo estes solos gordos e atraentes que guardas aí, bem abaixo!

Pela primeira vez o crime virou contra o crimoso: Otávio sentiu seu coração ser furtado por aquele homem que não sabe nem ao menos o nome. 

Amaram-se aquela noite. Otávio não se importou com as cuecas. Estava ocupado com outras coisas. Tinha outros dons (além, é claro, de roubar e cheirar cuecas).

E foi assim que Otávio se esqueceu das cuecas e tornou-se o ser mais falante do mundo: passou a desfrutar de prazeres e líquidos até então desconhecidos.

Aquele homem despertara nele o seu mais ínfimo desejo: ser surrado, amado e libertado. Surrado de prazer. Amado por alguém atraente, forte e áureo. Libertado da obsessão por cuecas.

domingo, 22 de setembro de 2013

Aquele que não se arrependeu do ataque de ciúmes



Andava soluçando pelos cantos sem compreender, de fato, o que ocorrera. Disse à empregada que poderia folgar naquele sábado de maio. E decidiu. Decidiu esquecer Marcelo, pois este não completava mais as suas lacunas amorosas.

Chama-se Raul e tudo que mais queria era esquecer aquele homem que um dia lhe jurou amor eterno. Ao rasgar as fotografias percebeu que o seu amor feria-o e insultava: sentia aquele gosto de sangue descer goela abaixo. Cada soluço era uma tortura de vida. Preciso esquecê-lo, dizia. Não posso alimentar um amor que só me fez passar fome, sede, lamentações e ausências de carinho.

Tudo começou no final do mês de abril. Raul saíra da escola que ministrava aulas de Literatura. Justamente, naquele dia, tinha trabalhado em sala um poema belíssimo. Discutiu com seus alunos a importância de amar e ser correspondido. Ao passo que explanava concepções a respeito do lirismo poético Adeliano, um de seus alunos questionou:

- E se todo esse amor se transformar em pó? Como correspondê-lo?

Raul calado. Não tinha resposta. Ele sabia que amava o Marcelo. Esse, sim, o correspondia – pobre Raul! Mais tarde ele não saberia mais definir ‘’amor correspondido’’ – o seu grande amor completava-o como podia: com sorrisos, afetos, palavras amorosas, boas trepadas e altas doses de regozijo e prazer.
O aluno insistia na resposta através de um olhar estarrecedor. Percebendo que este não desistira, Raul respondeu:

- Se todo este amor se transformar em pó, Lúcio, só nos resta atirar tais resíduos no mar e seguir a vida.

Raul assustou-se com a resposta: seguir a vida? Como se segue a vida depois de atirar aquilo que mais amamos ao mar? Como esquecer-se de quem nos deleita e faz bem?

Voltando aos soluços incontroláveis de Raul. Não acreditara na cena que vira: uma mulher alta, loura e de seios fartos adentrou as dependências de seu apartamento. Não acreditava. O Marcelo teve a cara de pau de levar uma puta para aquele leito que se tornou sinônimo de amor, festa e deleite? Não aceitava aquela situação! Ia colocar um ponto final nesta história sem nexo. Não aceitaria ser chifrado por uma mulher! Tinha que ser com alguém assim, como ele, cheio de desejos ocultos e laços permissivos.

Ao entrar no quarto, Raul gritou:

- Ponha-se daqui para fora, sua vadia! Pensa o quê? Que vai roubar ele de mim? Não vai mesmo! Ele me ama, ele me quer, ele fode comigo todas as noites! Ele é meu, só meu! Entendeu? MEU!

A mulher assustadíssima. Não compreendia aquela situação.

Raul sempre foi muito ciumento. Não permitia que Marcelo mantivesse uma relação amigável com ninguém: trabalhar? Não podia. Almoçar na casa de sua mãe? Não podia. Sair com os amigos do trabalho? Não podia. Criar um cachorro? Não podia. Marcelo estava, definitivamente, proibido de almejar outros mundos. Tudo tinha que conspirar a favor de Raul.

Marcelo tentou explicar, mas gaguejava muito. Estava assustado com aquela situação. Rosângela, a empregada, correu para saber o porquê de tantos gritos.

A mulher estava pálida e sem saber o que fazer. Em contrapartida, Marcelo respirou fundo e começou a explicar:

- Amor, esta é a Clarissa e vai redecorar o nosso quarto. Não te contei nada antes porque eu planejava uma surpresa. E, para não estragá-la, avisei a Rosângela para que ela me ajudasse nesta empreitada.

Raul não acreditou. Entre soluços e lágrimas, pediu para Marcelo arrumar suas coisas e sumir de sua vida. A Rosângela não: esta permaneceria. Afinal, segundo o Raul, esta possuía mais utilidade que o seu cônjuge. 

Após ser expulso de casa, Marcelo arrumou suas coisas, pegou uns poucos pertences e partiu para a casa da sua mãe. Na hora do jantar, Raul não estava disposto para nada. Não queria saber de comer. Doía-lhe o fato de Marcelo não devorá-lo com selvageria aquela noite.

No dia seguinte, com uma ânsia incontrolável, Raul telefonou para o seu grande amor. Desta vez quem estava destruindo-se em lágrimas era Dona Isaura, a mãe de Marcelo. Disse para o ciumento que o seu filho partira. Como assim, partira? Indagou Raul. Ele suicidou-se, respondeu a pobre senhora.

Raul não acreditava no que ouvira: o Marcelo suicidou-se por um fútil ciúme? Um pequeno quebra-pau foi o responsável por uma morte tão indissociável? Raul não aceitara.

Em uma carta, Marcelo explicou o motivo pelo qual partiu: estava cansado da vida ao lado de Raul. Tudo que sentia era desgosto, acidez e desacato. Não era correspondido a altura por Raul, homem que escolheu amar. Deixou registrado em papel timbrado tudo que sofreu por causa do ciúme daquele homem incompreensível que atendia por Raul Lopes Souza e Silva Bernades. Raul não conseguia aceitar estas palavras reproduzidas por Dona Isaura ao telefone.

- Não pode ser, Dona Isaura! Não pode ser! Eu o amava! Eu o queria eternamente para mim! Como uma briguinha pode tornar algo tão grave, ao ponto do meu Marcelinho deixar de viver?

- Às vezes, meu filho, o ciúme destrói os mais límpidos sentimentos. É como remédio: se não tomarmos a dose certa, nosso corpo cai em chão frio por causa de uma overdose. Você não soube controlar esta terra infértil e meu filho não resistiu: sofreu por causa de suas sucessivas crises de ciúme. Uma overdose que culminou com a partida do meu Marcelo, do meu amado e inesquecível bem querer. Dona Isaura não conseguia conter as lágrimas. Sentia pena e ódio de Raul.
Raul ordenou que Rosângela não comparecesse ao trabalho no dia seguinte, primeiro sábado do mês de maio. Mesmo reconhecendo que Marcelo é o amor de sua vida, decidiu esquecê-lo. Começou a andar por todos os cômodos soluçando profundamente. Lamentava por seu amado não estar entre os vivos. Cortou a boca na tentativa de abrir uma garrafa de vinho, o preferido de Marcelo: ao passo que suas gengivas sangravam, o pobre homem engolia uma mistura de lágrima e sangue. Lembrou de tudo: das traições, das noites de bebedeira, dos gritos na madrugada, das agressões, dos cinismos, lembrou quando Marcelo tentou esfaqueá-lo após recusar-se trepar em uma noite qualquer. Soluçava, esperneava-se, encostara sua cabeça na perna da mesa e lamentava a ausência eterna do seu grande amor, do homem de sua vida. Após um momento de reflexão, enxugou as lágrimas e olhando firme para um Picasso, disse:
- Do ataque de ciúmes? Disso, sim, eu não me arrependo.

domingo, 15 de setembro de 2013

Um grande amigo. Um enorme sucesso!

Hoje reservarei um espaço para o meu grandíssimo amigo Valentim e seu espetacular ''Não me arrependo, Nem me orgulho'', blog em que publica todas as suas perspectivas pessoais, sociais e as experiências por quais passa. Carrego isso comigo há muito tempo: valorizar amizades que nos engrandece, que nos dar força, alegrias, confiança e as mais variadas provas de afeto e companheirismo.

Valentim e eu sempre mantemos uma relação sincera. Creio que seja isso que nos faz grandes amigos: temos a sinceridade como carro-chefe de nossas vidas. Não sou uma pessoa com gênio fácil, mas ele sempre me compreendeu, me ouviu e divertiu-se comigo (mesmo sabendo dessa minha fama de ''chato'', ''estranho'' e outros adjetivos aqui impublicáveis). 

Vi seu crescimento. Começou de maneira singela a publicar os seus textos. Quando menos se espera, eis que o furação ''Nem me arrependo, Nem me orgulho'' ferve na internet. Um blog que demonstra o quanto uma pessoa pode, sim, evoluir através de palavras e concepções verossímeis de um ser que se importa com o próximo, com si mesmo, com a cultura e com outros aspectos que permeiam esta nossa vida errante, porém prazerosa.

O talento deste meu amigo é indescritível: um mestre na arte de criar frases e textos marcantes; descreve de maneira penetrante sobre o social, o pessoal, o cultural e outros assuntos; É notável que ele nasceu para a coisa! (Ah! Esqueci de mencionar que ele é estudante de Comunicação social...). Assim, ele segue sua jornada com textos e com um espaço completamente aconchegante, onde quem sai como o maior beneficiado é o leitor: conhecemos produções fortes, envolventes, construídas com temáticas que prendem, deleitam, instigam o senso crítico e, principalmente, nos chama a atenção para aquilo que nos rodeia.

Na última semana, enquanto eu assistia a uma apresentação na faculdade, surpreendi-me: dois textos do meu glorioso amigo estavam entre a sequência didática de duas colegas de turma. Uma felicidade tomou conta de mim! Tenho total certeza que estas colegas alcançaram um trunfo espetacular com as produções do meu amigo Valentim. Fiz questão de propagar a minha felicidade perante todos os presentes: ''O autor de tais textos, Professora, é um super amigo meu!''. E é assim que nós vamos reconhecendo nossos amigos mais que verdadeiros: através de situações inesperadas. Uma felicidade ao entrar em contato, mesmo que seja de forma repentina, com aqueles que são nossos grandes, gloriosos, famigerados e sinceros amigos. Sucesso, Valentim! 


* Para aqueles que se interessarem, eis o link do blog do Valentim: http://naomearrependonemmeorgulho.blogspot.com.br/

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Quando a hipocrisia mora ao lado

Aos que se bajulam, muito cuidado: a hipocrisia mora ao lado. Ela se encontra tão próxima que, quando menos se espera, a serpente (Ou as serpentes?) dão o bote: fingem-se de amigas, ecoam aos quatro ventos o lema ''sou sua amiga'', mas tudo não passa de mentira e mau-caratismo.

Fui vítima, mais uma vez, de uma atitude mesquinha, hipócrita e totalmente sem nexo. Daí me pergunto: o que leva uma pessoa agir com tanta insensatez? Tudo em nome de um moralismo que nunca fez parte da rotina destas pessoas? Agem como se eu fosse algum idiota! Não me deixo levar por estas imbecilidades humanas que tanto sujam a imagem de uma pessoa.

Jogar uma pessoa contra a outra, expondo mentiras e criando situações onde não existe, não faz de vocês, Serpentes, pessoas inocentes, castas e muito menos sinceras. O porquê de criarem mentiras é o de menos: pior foi a atitude estúpida de me rotular como idiota. 

Às vezes a hipocrisia mora ao lado, tão pertinho que você se surpreende com a descoberta destas pessoas que até pouco tempo estavam no meu ciclo de amizades. Uma atitude estúpida que só me fez colocar tais serpentes de escanteio. Indiretas não surtiram efeito. Sou muito maior que estas mentiras deslavadas que criaram de mim. Nunca quis prejudicar ninguém. Pelo contrário: sempre ajudei, cultuei e me esforcei para atingirmos as mais altas conquistas. 

Lição? A vida é repleta de lições. Aprendi mais uma vez com a vida: não se pode confiar em qualquer pessoa. Por baixo da epiderme, esconde-se uma serpente. Com veneno inofensivo, mas perigosa. Palavras destroem qualquer sintonia, o poder das palavras é muito grandiloquente. Relevo, como sempre faço. Não perturbarei os meus ânimos com estas hipocrisias vazias, que só preenchem a caixa de inveja de seres humanos medíocres, imbecis e totalmente desprovidas de bom senso.

Seguirei de cabeça erguida. Sem me preocupar com as venenosas hipocrisias destas serpentes inofensivas. Tentarão me derrubar, mas, pelo que sei, nunca vi uma serpente vencer aqueles que possuem fé, coragem, sinceridade e muita, muita alegria de viver.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Versos Contínuos

Tentei tudo que estava ao meu alcance. Não quero mais lembrar das lágrimas que derramei por você, naquela noite de frio. Todos me aconselham, mas eu não sei aceitar. Decidi esquecer-te. Espero, agora, que nossa relação se eternize no passado.

Escrevo poemas para retratar todo sofrimento que me assola. Pergunto-me: quem pode fazer estes meus versos falar? A mudez destes me tortura, me chicoteia, me faz lembrar de todos os momentos que vivi contigo. 

Entro no nosso antigo quarto, me olho ao espelho e o meu reflexo me diz: você consegue! você consegue! você consegue! Respiro fundo e percebo que bastar lutar contra toda assolação amorosa que me persegue. Eu conseguirei te esquecer. Pode demorar o tempo que for. Conseguirei te esquecer. A vida vai acontecer da melhor possível. Nem que para isso eu arranje um novo amor.

Lentamente vou reconstruindo a minha face. Tudo volta para o seu lugar e vou dizer sim ao primeiro novo amor que me instigar. Não quero mais me prender a ilusões, mentiras e fracassos. Não quero desperdiçar minha vida com um alguém que não soube acalentar este meu coração tristonho.

O mundo dá voltas. Escrevo um novo poema e as rimas encaixam-se, agora, perfeitamente. Os meus versos não se caracterizam mais pela mudez e, sim, por tudo aquilo que vem me transmitindo felicidade: amigos, festas, chás, beijos e boas doses de carinho. 

Respiro aliviado. O tempo passa e respiro mais aliviado ainda. Você não está mais em minha vida e isso se concretiza com o meu sorriso. Deixo a vida acontecer. Só assim conhecerei a verdadeira felicidade. 

(Texto baseado na música ''Versos Mudos'', Marjorie Estiano)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Uma gatinha chamada Cecília


Minha gatinha Cecília.


* Poema dedicado à minha gata Cecília
 

Minha gatinha corre toda cozinha.
Zoa o fogão, meu pezinho e tenta
pegar o pardalzinho.

Minha gatinha é levada! Leva bronca,
corre pela escada e ainda lambe a minha
cara. Cecília, minha gatinha, é muito
divertida!

Cecília é travessa, dorminhoca e comilona.
Brinca, brinca, brinca e não cansa.
Minha gatinha tem ares de bailarina.
Na ponta das patinhas, ela dança a valsa
e encanta todos em casa.

Na hora de dormir, se contorce toda.
Esquece o cansaço do dia,
olha para mim e mia.
Como se dissesse: amanhã teremos
um belo dia.

domingo, 25 de agosto de 2013

Os amigos de outrora

Mais uma noite de sábado ao lado de amigos muito queridos. Diferentemente dos outros sábados, ontem eu pude me juntar novamente com amigos de outrora. Considero o nosso reencontro um ato de extrema pureza, amizade e carinho.

É sempre bom contar com amigos que, independente do tempo, são nossos companheiros fiéis na arte de sorrir. Ontem eu fui recebido com um caloroso abraço e saí com a mesma sensação de bem estar. Os meus velhos amigos tornaram-se muito importantes para mim. Tanto que decidi reservar uma noite para eles. Noite esta que se enquadra nos padrões da boa comunicação.

Como sempre, esta amizade começou nos meus tempos de escola. Matávamos aula só para nos reunir e jogar conversa fora. Sou sincero em admitir: estes meus velhos amigos foram os responsáveis por me fazerem bem. Esqueci de várias dores e decepções ao lado deles. Nosso tempo de escola foi tão estupendo que, mesmo após concluirmos o ensino médio, íamos até lá só para relembrar dos sorrisos, das piadas, das lágrimas e de tudo aquilo que conseguimos elencar durante nossa trajetória amistosa e escolar.

Seguimos caminhos opostos. E, com o tempo, nos afastamos. Diariamente sou surrado pela saudade. As lembranças me fazem refletir e me comovo todo ao lembrar dos ótimos momentos que vivenciamos. Clarice Lispector, em seu belíssimo conto ''Uma amizade sincera'', diz que ''Amizade é matéria de salvação''. Realmente, é. Salva-se várias vidas com uma boa dose de amizade. Os meus velhos amigos são remédios que me transmitem carinho, festa, gosto de bem estar e paz. Hoje, nós estamos separados. Culpa do destino? Acho que não. Na cartola da vida nós ganhamos surpresas como esta: cada um seguindo o seu destino, constrói-se vidas e não podemos desviar a reta. Meticulosamente são traçados. Da mesma forma que nós nos separamos e ficamos com tudo registrado na memória. 

Conheci novas pessoas e estas se transformaram em ótimos amigos. Não consigo esquecer dos meus velhos amigos. Reúno-me com estes novos laços amistosos, mas a lembrança dos de outrora me persegue, me tortura, me bate. Choro de saudade toda vez que reencontro-os. Rapidamente as lágrimas somem e um grande sorriso estampa o meu rosto. 

O tempo passa e os meus velhos amigos permanecem.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Antes do último pôr-do-sol

Você foi embora. E aquele amor que um dia juramos eternidade? Como fica? No dia que ''ocê'' foi embora, prometi para mim mesmo: vou ser feliz. Nada de saudade deste ser que duramente me abandonou com um coração choroso, espinhento e seco.

Lembrei que, olhando para o mar, nós prometemos um amor infinito. Casa, filhos, comida e roupa lavada constavam em nossos planos. Ainda tenho aquela conchinha que você me deu. Lembrei, também, que esta concha foi encontrada na areia, nem para sacrificar-se para este singelo ato você foi capaz. O sol queimava a minha pele, ressecava os meus lábios. De noitinha, quando a lua surgia, queria colocar em prática todos os artifícios que eu escondia por trás de uma cara amarrada. Nada de você ceder. Dizia que estava cansado, que a luz da lua servia para refletir sobre a vida, sobre o emprego, sobre os meninos. Pensar em mim? Nunca se preocupou comigo. 

Certezas e dúvidas povoavam a minha mente. A minha vontade era de te matar e depois assistir de camarote o seu corpo boiando na água. Não tive coragem. Amo-te tanto, meu amor! Todas as vezes que nós brigávamos, sua voz de piedade amolecia o meu coração. 

Você foi embora. E aquele amor que um dia juramos eternidade? Todo este amor transformou-se em pó. Medíocres sentimentos que não engrandeceram o nosso amor. A solidão já me torturou muito, mas agora estou determinado a virar este jogo. No dia que ''ocê'' foi embora, prometi para mim mesmo: vou ser feliz. Sinto, bem de leve, quase imperceptível, um sorrisinho meio amarelo surgindo ao pé de minha boca. Será a felicidade? Espero, antes do último pôr-do-sol, sentando na areia fria da mesma praia, que seja a bendita felicidade.

(Texto baseado na música ''O último pôr-do-sol'', Lenine)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Louco Amor

Muitos me classificam como louco. Creio que o adjetivo associa-se perfeitamente com esta minha fase atual: louco por amar alguém que não me ama. Louco, pois sou um idiota em não enxergar as situações corriqueiras e falsas que estão bem na minha frente. 

Amei, sim, aquele cafajeste. Lutei e relutei para que o nosso amor fosse eterno. Afinal, não é o Vinícius de Moraes que nos diz que a infinitude deve durar? Não sei se ele me amou. Só sei que eu amei de forma incomensurável, digna de um troféu. Toda pieguice, no entanto, extinguiu-se. 

Insisto: sou louco por ainda amar uma pessoa que não demonstrou uma prova de amor por mim. O bem que eu quis transformou-se, rapidamente, em pó. Cinzas que atirei na primeira poça que encontrei. Nem todo mundo merece o bem que nós cultivamos. Desperdiçam este puro sentimento como algo que não se recicla. O bem passou, mas o meu amor ainda permanece.

Coração burro, medíocre e insensato! Por que ainda insistes em amar este homem? Não consigo entender este amor avassalador que ainda sinto por ele. Então, coração mentecapto, me diz o porquê de eu amá-lo tanto assim? 

Sou um louco mesmo! Sou muito louco! Só sendo louco para aceitar uma situação dessas. A minha loucura chegou ao ápice de sua incompreensão. Adeus, meu grande amor! Este louco aqui acaba de partir para uma viagem sem volta.


(Texto baseado na canção ''Só Louco'', de Gal Costa)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Ainda bem?

Você não vive comigo. Ainda bem! Já parou para pensar como seria esta minha vida se você ainda estivesse aqui comigo? Sei lá! Mas creio que não seria nada bacana.

Nos dias frios, aqueles que você me prometia calor e afeto, sentia-me sozinho. O porquê? Simplesmente quem me prometeu companhia não apareceu. Não quero mais te amar. Desisti deste relacionamento sem nexo, solitário amor que ainda insisto em regar.

Repleto de dores, o meu coração não encontrava nenhuma facilidade para esquecer aquele abandono. O seu rosto em minha mente fazia despertar um gosto de suicídio, chorume e nefastas sensações de desapego tomavam conta de mim. Flores? Nunca recebi flor nenhuma daquele desgraçado. O único presente que ganhei foi um belo pontapé nesta traseira que ele um dia reverenciava. Beijei-lhe tanto! Nos dias de hoje, ele desvia o rosto para que meus lábios se sintam ainda mais excluídos de seu coração impiedoso. 

Os dias passam e eu percebo que o seu amor não preenche mais o que antes transbordava paixão. O acaso não é mais o responsável por unir estes dois corações solitários e completamente carregados de amor, café, álcool e briguinhas indigestas. A sorte que um dia nos uniu é a mesma que nos afasta. O meu trevo de quatro folhas perdeu-se pelo caminho da vida. Ganhei, como recompensa, uma solidão estridente, que constantemente assola este meu coração com uma luva repleta de espinhos.

Agora vivo neste mundo solitário e triste. Há muitos anos busco a sorte de conhecer um amor verdadeiro. Desejo uma paixão avassaladora, instigante. Que o nosso amor possa produzir líquidos de saudade, que nos una novamente. Nós dois. Nosso amor. Uma vida que, ainda bem, não temos mais a preocupação de adubar.

(Texto baseado na música ''Ainda bem'', de Vanessa da Mata)

terça-feira, 20 de agosto de 2013

O tolo & Um amigo

Um amigo, que prefiro não revelar o nome, me mostrou como a vida é feita de altos e baixos. No último domingo, eu estava nesta situação: sentia-me mais baixo que os mais profundos e imundos esgotos. Este meu amigo fez com que eu me reerguesse e encontrasse uma saída. Difícil, mas consegui sair do labirinto no qual encontrava-me.

Cheguei a me comparar com a Macabéa, de Clarice Lispector. Sabe aquela passagem que o voraz Olímpico compara a pobre personagem a um cabelo na sopa? Sentia-me assim. Não sei exatamente o que me levou a sentir este asco por mim mesmo. Só sei que parte do meu domingo estava praticamente no lixo. Coberto por uma lama escura, nojenta e totalmente destituído de amor próprio.

No sábado, acabei quebrando uma promessa que fiz. Prometi para mim mesmo não me relacionar com alguém que me fez chorar. Lágrimas que não consigo esquecer. E a ferida aberta em em meu coração? Ah! Esta sim expelia secreções sentimentais por todos os lados. Não que aquela noite ficou estigmatizada como ''ruim'', ''péssima'', digna de um esquecimento. Longe disso. Aquela noite tornou-se inesquecível, porque eu pude, mais uma vez, desafiar este ego que insiste em me humilhar. Sentia-me bem. Até que reencontrei aquele que me fez chorar. Lembrei de todos os sofrimentos passados, mas consegui manter a minha pose. O meu amigo me acompanhou nesta encenação. Fez com que eu esquecesse aquele momento estarrecedor, de puro lirismo e totalmente duvidoso.

Eu me sentia confuso. Quando trocamos olhares, pude perceber que ele tentava se aproximar de mim. Exigia perdão, afeto, um recomeço. Eu o ouvia. Aquilo me comoveu. Nunca ele tinha expressado tanta verossimilhança em um discurso tão contundente. Mas fui forte. Disse tudo que eu tinha vontade. Aquilo que se encontrava engasgado fluiu como uma represa que acaba de rebentar suas fortes paredes. Meu amigo encontra-se muito calado, pensativo. Acabei cedendo a todas aquelas investidas. Não resisti. Eis o motivo de minha traição. Voltar atrás e beijar quem eu prometi esquecer me fez sentir uma ojeriza. 

Chega o domingo. Acordei com aquela sensação de lixo. Um misto de prazer e tristeza me assolava. Como pude investir em alguém que sempre me faz chorar? Afinal, o amor representa o elo mais belo e previsível entre dois seres que se julgam dignos de um final feliz. De felicidade meu domingo não tinha nada.

Resolvi desabafar. Este meu amigo se fez presente nesta hora. Ele me mostrou o quão inútil era eu me sentir cabisbaixo por algo que já tinha acontecido. Realmente, ele estava com a razão. Chorar para quê? Lamentar-me para quê? Enfim, de que adiantava eu permanecer no lixo se tudo que já tinha acontecido não poderá jamais ser apagado? O meu amigo foi além: disse-me para ser forte. Firmeza foi sua palavra de ordem. Me mostrou que não adianta consertar aquilo que não se cola. Senti meu coração enxugar as lágrimas, estancar o sangue e abrir um sorriso.

Um amigo, por mais que ele não esteja ao lado nas horas de dor, pode sempre ser o alicerce que te sustenta nestas horas de joelhos no chão. Domingo eu tive a prova que este meu amigo se tornou peça chave no meu baú de vitalidades. Portanto, cultivarei esta amizade por muitos anos. Defenderei este laço amistoso de todas as formas possíveis. Fui, definitivamente, do lixo ao luxo. Ao contrário daquele que só me fez chorar, o meu amigo revelou que sou muito mais que aquelas lágrimas sangrentas que escorreram pelo meu rosto. Sorrir, perpetuar ensinamentos e, principalmente, acalentar corações partidos, humilhados, malogrados e feridos podem ser curados com boas palavras de um pessoa especial. Pessoa que pode ser sua mãe, seu pai, seu irmão, seu vizinho, seu cachorro... Quando se tem um amigo como o meu, ah!, tudo conspira para uma união além de meras companhias, festas e sorrisos. Palavras que confortam são muito mais que meras situações cotidianas. Este meu amigo não sabe, mas este meu ar de felicidade se deve, também, por ele me ajudar nestes momentos difíceis por quais passamos. Um amigo pode ir além daquilo que esperamos. Um amor mais verdadeiro do aquele que um dia me prometeram.

domingo, 21 de julho de 2013

Uma tal de Poesia Erótica...

Olá, pessoal!

Ando um pouco sumido daqui do Devaneios & Veracidades, né?! Trabalho, estudo, festividades... Mais ao que tudo indica, eu estarei de volta de forma mais assídua brevemente.

Estou aqui para divulgar, eis o meu objetivo, os meus textos. Desta vez, encontrei na poesia uma forma de esquecer um pouco dos problemas, dos estresses e, principalmente, do tédio. Resolvi dedicar-me aos versos para abafar as angústias que estavam, só estavam, tentando me derrubar.

Dediquei-me, desta vez, a um ramo da literatura que me atrai muito: o erotismo. O erotismo, seja em prosa ou poesia, sempre me deixou estático. Cada vez que eu entro em contato com produções deste tipo, sinto-me saciado. É como se alguém me desse um copo com água, pois estou morrendo de sede. E decidi arriscar. Não sou poeta e escrevo poesias para esquecer um pouco as mazelas diárias que insistem em nos perseguir.

Não senti medo. Não estou preocupado com críticas. Como já diz Clarice Lispector em sua ''Explicação'': ''Se há indecências nas histórias a culpa não é minha. '' Creio que o erótico faz parte do nosso cotidiano. Seja através de nós mesmos. Seja através de outros meios.

Antes que me perguntem se estes versos mantêm algum vínculo com as minhas particularidades, sou categórico: sim e não. Não posso dizer que tais versos não respondem por mim. Assim eu estarei mentindo (e eu odeio mentiras). A minha fama de estranho, vai crescer. Além do mais, eu escrevi poemas eróticos e com traços gays. Pouco me importa as críticas e/ou pedras que irão atirar. Não me preocupo com a recepção e nem com os compartilhamentos. A literatura representa muita coisa para mim. Sempre me senti livre para escrever, discorrer e aceitar o que quiser. Não quero limitações. Quero liberdade. Quero aquela sensação de fome saciada.

No mais apresento abaixo os poemas que compus. Não estão perfeitos, pois, como eu disse, não sou poeta. Sou um admirador de versos e de situações cotidianas transpostas para estas composições poéticas. Sintam-se livres para atirarem flores ou pedras. Ambas as situações já significam muito para mim.

Obrigado!

Desapego

Prometeu voltar e encher as minhas nádegas de prazer.
Pura mentira! O meu amor nem um bilhetinho me enviou.
Cafajeste!, gritei. Rasguei duas almofadas: ritual de pura
vingança. Quero me vingar de você, filho da puta!
Não se faz isso com quem diariamente te jura amor.
Ah, quero te mandar para os quintos do infernos!
Quero defecar nesta tua cara de lambe chão.
Chutar as tuas bolas para comemorar o meu milésimo
gol: comemorar a minha vingança (que não sai do papel).
Antônio, desgraçado, vou me vingar de ti!
Minhas nádegas se preparam para te nocautear intensamente.
Não consigo controlar minha raiva.
Antônio, filho da puta!
Antônio, não adianta me olhar com esta cara de arrependimento.
Te mandarei para o inferno, não irás saciar a tua fome com as minhas
nádegas. Você lamberá os meus pés. E eu lamberei o teu cilindro.
A tua válvula de escape. Mas as minhas nádegas, meu bem, não
terás nunca mais.

Amor Perfeito

Adeus. Partirei atrás de meu amor.
Não voltou. Não deu mais notícias.
Adeus. Partirei atrás do meu sexo.
Quero tê-lo. Quero devorá-lo.
Adeus. Partirei atrás de minha vergonha.
Por te amar demais. Por não esquecê-lo.
Adeus. Simplesmente adeus.
Não partirei. Não vou correr atrás
do meu amor
não quero notícias
não tenho mais vergonha
esqueci-o completamente.
Irei saciar o meu desejo com as minhas próprias mãos.
Ou eu não atenderei mais pelo meu nome: redentor do meu corpo.

Mata Fome

Quero chupar as partes que se encontram
escondidas em países já conhecidos.
Que espécie de amor é esse? Recolhe-se
todo para não saciar a minha sede.
Me mate de prazer! Enche esta minha boca
com as águas mais límpidas de teu corpo.
Aprisiona-me em teus braços espinhosos e
cavalgue sobre este meu corpo cansado de
chatices, amores difíceis. Rompe esta camada
de petróleo, sangue estancando, bule sem café,
leite derramado. Sacia esta minha fome por carnes e
molhos regados à pimentas fortes, alhos, cebolas e coentros
verdinhos (assim como a minha esperança).
Espero-te, amado meu. Espero que você surja para, enfim,
podermos matar esta sede, esta fome e esta transloucada vontade
de sentir-se livre.

Decepção

Espero desde a fragilidade dos meus desejos,
o teu olhar estremecedor.
Já te cultuei tantas vezes que, quando nos
rendemos as armadilhas do amor,
descobri que não eras
o que eu esperava.
Desejo, mais que tudo, que desapareças
de minha vida.
Não quero que atrapalhes os meus instintos
amorosos-selvagens em que o meu corpo
clama por corpos
indescritíveis.
Se você não for, sem problema.
Desapareces do meu pensamento.

Uma Quase Confissão

Queria que o meu amor descobrisse o quanto eu o amo.
Esse amor secreto corrói tudo que vê pela frente.
Amo-te calado, em silêncio. Demonstro com atitudes
pueris e nenhuma forma te encaminha ao meu encontro.
Truques antigos: não servem.
Novas tecnologias: não te atraem.
Farei um outdoor e nele colocarei:
- Eu te amo, mesmo que não me ames!
E prosseguirei:
- Amo-te desde a juventude do meu coração, desde a
infância do meu corpo, desde a virgindade dos meus lábios.
Te deixarei tão curioso que quando olhares para o canto do
outdoor, lá estará assinado:
Daquele que te ama,
Secreto Amor.

Prazeres

Do sexo eu retiro toda sua tonicidade.
Forte, estarrecedor e digno de um
desfrute, o sexo é o melhor exercício
para os apaixonados.
Quando nos entregamos as delícias
do sexo, as gangorras despertam
todos os mecanismos para o ápice
do prazer.
Felizes daqueles que despertam os
prazeres sexuais! Deleitar-se com
os sabores que o corpo proporciona,
é a melhor forma de reconhecer que
duas pessoas nutrem-se do mais
instigante alimento para, enfim,
serem donas do seu próprio
destino.

Ofegante Desejo

Eu sempre desejei-te.
Lembro-me dos diversos
sonhos que tive contigo
e acordava ofegante,
trêmulo e risonho.
Descobri que não amavas
pessoas assim como eu:
Alegre demais
Sorridente demais
Sofrível demais.
Passavas noites e noites
pelas ruas e eu, tristonho,
caía em desespero.
Praticavas as mais loucas
orgias e eu não aceitava
que me traísses com aquelas
mulheres de seios fartos.
Depois do meu segredo revelado
peço, insistentemente, a Deus:
na minha próxima vida, quero
nascer meretriz.

Arrependimento

Quero a extrema unção.
Liberta-me, Grandíssimo,
dessa escuridão que assola o meu coração.
Desejei a morte e a morte não veio.
Clamo por sua foice.
Quero sentir sua lâmina cortar meu pescoço e,
quando o sangue jorrar, que fiques me admirando
e que chores de arrependimento.
Que me consumisse em vida.

Em morte, deixe com os insetos.


* Vamos lá, pessoal! Deixem os seus comentários. Este aprendiz na arte de versificar agradece! :D