quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A profunda poesia de Adélia Prado

''Quase entendo a razão da minha falta de ar. Ao escolher palavras com que narrar minha angústia, eu já respiro melhor. A uns, Deus os quer doentes, a outros quer escrevendo.'' 

(Ex-voto, Adélia Prado)


     Sou fã de Poesia. Desde cedo, eu curto versos. Lembro-me que em certo momento da minha vida estudantil, minha Professora lia poemas de Cecília Meireles para mim e minha turma. Eu me fascinava. Achava tudo muito belo e inocente. Cresci e descobri que a poesia abrange âmbitos mais verídicos. Foi assim com a poesia de Adélia Prado. Desde que a conheci, sinto que ela possui um tom diferente. 

    Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, em 13 de dezembro de 1935. A autora começa a escrever seus versos logo pós a morte de sua mãe, Ana Clotilde, em 1950. Exerceu o magistério durante 24 anos e formou-se em Filosofia, em 1973. No mesmo ano Carlos Drummond de Andrade lê seus poemas. Segundo Drummond: "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis". 

A escritora Adélia Prado
    Sua primeira obra, Bagagem, é publicada em 1976. Dois anos depois recebe o Prêmio Jabuti pela obra O Coração Disparado. Adélia ainda escreve prosa e teatro. Adélia Prado passou um período de dez anos sem publicar nenhuma obra. Em 2010, porém, ela publica um novo livro intitulado A Duração do Dia

Depois de 10 anos de silêncio, Adélia publica ''A duração do dia.''

    Adélia explora o cotidiano, o erotismo, a religiosidade, a saudade e outras temáticas de forma singular. São versos que fascinam por sua simplicidade. Adélia estarrece e encanta com os seus versos. É uma autora que busca transmitir o que sente. Enfim, Adélia é o lirismo que tanto precisamos para seguir em frente.

''Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis.'' (Carlos Drummond de Andrade)

    Abaixo dois poemas da autora:



Ensinamento

Minha mãe achava estudo 
a coisa mais fina do mundo. 
Não é. 
A coisa mais fina do mundo é o sentimento. 
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, 
ela falou comigo: 
"Coitado, até essa hora no serviço pesado". 
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente. 
Não me falou em amor. 
Essa palavra de luxo.

(In Bagagem, 1976)


Tão Bom Aqui

Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui pra rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestiono elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
o de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
eu nada sei de mim.

(In A Duração do Dia, 2010)

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