''Quase entendo a razão da minha falta de ar. Ao escolher palavras com que narrar minha angústia, eu já respiro melhor. A uns, Deus os quer doentes, a outros quer escrevendo.''
(Ex-voto, Adélia Prado)
Sou fã de Poesia. Desde cedo, eu curto versos. Lembro-me que em certo momento da minha vida estudantil, minha Professora lia poemas de Cecília Meireles para mim e minha turma. Eu me fascinava. Achava tudo muito belo e inocente. Cresci e descobri que a poesia abrange âmbitos mais verídicos. Foi assim com a poesia de Adélia Prado. Desde que a conheci, sinto que ela possui um tom diferente.
Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, em 13 de dezembro de 1935. A autora começa a escrever seus versos logo pós a morte de sua mãe, Ana Clotilde, em 1950. Exerceu o magistério durante 24 anos e formou-se em Filosofia, em 1973. No mesmo ano Carlos Drummond de Andrade lê seus poemas. Segundo Drummond: "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis".
A escritora Adélia Prado |
Sua primeira obra, Bagagem, é publicada em 1976. Dois anos depois recebe o Prêmio Jabuti pela obra O Coração Disparado. Adélia ainda escreve prosa e teatro. Adélia Prado passou um período de dez anos sem publicar nenhuma obra. Em 2010, porém, ela publica um novo livro intitulado A Duração do Dia.
Depois de 10 anos de silêncio, Adélia publica ''A duração do dia.'' |
Adélia explora o cotidiano, o erotismo, a religiosidade, a saudade e outras temáticas de forma singular. São versos que fascinam por sua simplicidade. Adélia estarrece e encanta com os seus versos. É uma autora que busca transmitir o que sente. Enfim, Adélia é o lirismo que tanto precisamos para seguir em frente.
''Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis.'' (Carlos Drummond de Andrade) |
Abaixo dois poemas da autora:
Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
(In Bagagem, 1976)
Tão Bom Aqui
Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui pra rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestiono elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
o de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
eu nada sei de mim.
(In A Duração do Dia, 2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário